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Lições para homens públicos

Atualizado: 2 de ago. de 2023

Esta é a história de Antonino Pio, imperador Romano.

Antonino era de uma família das mais opulentas de Roma. Subiu ao trono aos 51 anos e deu ao Império o mais justo governo que jamais houve, e não dos menos eficientes.

Foi o homem mais afortunado que ainda se sentou num trono. Descrevem-no sereno, amável e resoluto, modesto, eloquente e motejador da retórica, popular e imune à lisonja. Deu-lhe o Senado o nome de Pius, como modelo que era das mais belas virtudes e Optimus Princeps, como o melhor dos príncipes.

Não era intelectual no sentido rigoroso da palavra. Não teve grande cultura e olhava com aristocrática indulgência para os homens de letras, de filosofia e da arte. Gostava das coisas simples. Jogava, pescava e caçava com os amigos, em tudo agindo de modo a não denunciar que era o imperador. Preferia o sossego de sua vila em Lanúvio ao luxo do palácio oficial, e quase sempre passava as noites na intimidade da família. Ao herdar o trono, pôs de lado todos os projetos da vida que havia imaginado para consolo da velhice. Percebendo que sua mulher sonhava com a grandeza, reprovou-a: "Não compreendes que perdemos o que tínhamos?" Não ignorava que havia herdado a grande preocupação dos negócios do mundo.

Antonino começou doando a sua imensa fortuna ao Tesouro Imperial. E cancelou as taxas em atraso, custeou muitos jogos festivais, aliviou os preços do vinho, óleo e trigo, adquirindo grandes partidas e distribuindo-as entre os necessitados. Prosseguiu no programa de construções de Adriano, tanto na Itália como nas províncias. E tão habilmente zelou das finanças que ao morrer havia no Tesouro 2,7 bilhões de sestércios (moeda romana). Prestava contas de toda a receita e despesa pública. Comportava-se em relação ao Senado como um simples senador, jamais tomando nenhuma medida importante sem consulta a seus líderes. Entregava-se integralmente aos trabalhos da administração; "cuidava de todos os homens e de todas as coisas como se seus fossem". Estimulou a educação custeada pelo estado e proveu-a para as crianças pobres, aos professores de mérito e aos filósofos estendeu muitos privilégios da classe senatorial.

Governou as províncias tão bem quanto possível a um imperador não itinerante como Adriano. Em todo o seu longo reinado jamais deixou a capital por um só dia. Insistia em por no governo das províncias homens de comprovada competência e honra. Seu anseio era conservar a paz; "vivia citando aquele dito de Cipião que antes salvar um cidadão do que matar mil inimigos". Mas teve de fazer algumas pequenas guerras a fim de suprimir revoltas; deixou entretanto essas tarefas a seus subordinados e contentou-se com as fronteiras estabelecidas por Adriano. Interpretando tamanha benevolência como fraqueza algumas tribo da Germânia animaram-se a preparar a invasões que depois da morte de Antonino abalaram o Império. As províncias mostravam-se felizes durante o seu reinado, aceitando o Império como a única alternativa para o caos e discórdia. E bombardeavam-no com petições, quase sempre atendidas; nunca deixou de ajudar as províncias em tempos de dificuldade. Autores romanos cantavam louvores à Pax Romana; e Apiano assegura-nos que vira em Roma enviados de países estrangeiros inutilmente pedindo a admissão de suas pátrias na comunhão do Império. Até então, jamais monarquia alguma dera tanta liberdade ao homens ou respeitara os direitos de seus propósitos. O grande ideal parecia atingido. Reinava a sabedoria - e "por trinta anos foi o mundo governado por um pai".

Extraído com adaptações de História da Civilização, de Will Durant (Terceira Parte, Tomo II).

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