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Governo Isenta Importação de Alimentos, mas Medida Divide Opiniões no Setor Agropecuário

Foto do escritor: Michelle FreireMichelle Freire

Deputado Pedro Lupion critica decisão do governo e defende alternativas para redução do preço dos alimentos. Especialistas apontam impacto limitado da iniciativa.


O recente anúncio do governo federal sobre a isenção de tarifas de importação para determinados alimentos gerou forte repercussão no setor agropecuário e no meio político. A medida, que visa conter a alta dos preços ao consumidor, foi debatida em entrevista concedida pelo deputado Pedro Lupion à CNN Brasil, onde ele questionou a eficácia da estratégia e sugeriu alternativas para um impacto mais concreto na economia.

Enquanto o governo defende a iniciativa como uma resposta imediata à inflação dos alimentos, produtores rurais e representantes do agronegócio argumentam que a medida pode desvalorizar a produção nacional e ter efeitos limitados.

Deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), presidente da FPA
Deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), presidente da FPA — Foto: Marina Ramos / Câmara dos Deputados

Críticas à Estratégia do Governo para Importação de Alimentos

Na entrevista à CNN, Pedro Lupion, presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), destacou que a isenção de tarifas para produtos que o Brasil já produz em larga escala – como café, açúcar e carne – não resolverá o problema dos preços e pode até prejudicar os produtores nacionais.

“Quem produz café no mundo que não seja o Brasil? Exportamos para todo o planeta. O mesmo vale para o açúcar e a carne. Como a importação reduzirá os preços aqui se já somos os principais fornecedores globais?”, questionou o deputado.

Lupion também criticou o fato de que as discussões sobre a medida ocorreram sem a participação dos produtores rurais, e que apenas representantes da indústria estiveram presentes na mesa de negociações.

“O governo chamou apenas a indústria para discutir preços, mas quem realmente produz os alimentos não estava lá”, afirmou.

Efeitos no Mercado e o Timing do Anúncio

Outro ponto levantado pelo deputado foi o timing da decisão. Segundo ele, a colheita da safra nacional já está prestes a chegar ao mercado, o que naturalmente reduziria os preços dos alimentos. Assim, o governo pode acabar reivindicando o crédito por uma queda que ocorreria de qualquer forma devido ao aumento da oferta.

Além disso, Lupion reforçou que os preços elevados são resultado de custos de produção altos, impulsionados pelo preço dos insumos e pelo impacto da taxa de juros sobre o agronegócio. Ele sugeriu que, em vez de zerar impostos sobre alimentos importados, o governo deveria reduzir os tributos sobre os insumos agropecuários, como fertilizantes e sementes, tornando a produção nacional mais barata e competitiva.

Comparação com Medidas Anteriores

A CNN também questionou o deputado sobre medidas similares adotadas no passado. Em 2024, após as enchentes no Rio Grande do Sul, o governo tomou decisão semelhante em relação ao arroz, o que resultou na queda dos preços ao consumidor. Além disso, em 2022, durante o governo Bolsonaro, uma isenção tarifária para alimentos como queijo, açúcar e óleo de soja também foi aplicada.

Em resposta, Lupion argumentou que o caso do arroz foi uma situação excepcional, decorrente de um desastre climático, e que a realidade atual é diferente. Quanto à medida de 2022, ele afirmou que o contexto da pandemia exigia ações emergenciais, o que não se aplica ao cenário atual.

“O problema de hoje não é falta de produtos. O problema é o custo de produção e a desorganização econômica”, destacou.

Análise de Conjuntura

A jornalista e analista política Michelle Freire avalia que a polêmica em torno da isenção tarifária revela um conflito de prioridades entre o governo e o setor agropecuário.

"O que está em jogo não é apenas a eficácia da medida, mas a maneira como o governo lida com o setor produtivo. A falta de diálogo direto com os produtores gera resistência e desconfiança. Além disso, há um componente político forte nessa equação: enquanto tenta conter a inflação, o governo também precisa lidar com pressões ideológicas e interesses de diferentes setores da economia", pontua Freire.

Ela também destaca que, embora a isenção tarifária possa ter algum efeito no curto prazo, sua eficácia a longo prazo depende de fatores como câmbio, custos logísticos e poder de barganha dos supermercados.

"No caso do arroz, vimos que a importação conseguiu conter os preços momentaneamente, mas a situação era diferente. A grande questão agora é se essa estratégia realmente resultará em queda nos preços ou apenas deslocará a produção nacional, sem benefício significativo para o consumidor", conclui.

A decisão do governo de isentar tarifas de importação de alimentos divide opiniões e evidencia um embate entre diferentes setores da economia. Se, por um lado, a medida busca aliviar o bolso do consumidor, por outro, ela gera resistência entre os produtores nacionais, que temem perda de competitividade e impacto reduzido nos preços.

Nos próximos meses, será possível avaliar se essa estratégia surtirá efeito ou se, como aponta a Frente Parlamentar da Agropecuária, a queda dos preços será impulsionada pela safra nacional e não pela política de isenção de impostos.

A discussão segue aberta, e os próximos movimentos do governo indicarão se ajustes serão necessários para atender às demandas do setor produtivo e dos consumidores.

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